Um dos objetivos desse espeço é trazer alguns assuntos que são menos abordados, ou pouco explorados, quando se fala em mudar de país. Pensando nisso eu as vezes paro para ler artigos em blogs ou assistir vídeos no youtube, assim não caio naquele “mais do mesmo”.
E foi em um desses dias, assistindo alguns vídeos que falavam sobre os motivos para não viver na Alemanha que algo me veio à mente… a saudade. Veja bem, não estou dizendo que nenhum dos vídeos que eu assisti mencionou a questão da saudade da família, amigos e etc. O que eu senti falta foi de ênfase a esse assunto, não foi dado nesses vídeos a real dimensão do vazio que causa a saudade quando você sai do seu país para buscar um novo horizonte em uma terra distante.
Então aqui eu vou tentar dar um testemunho. Trazendo vocês para a minha realidade talvez fique mais honesto e eu consiga transmitir exatamente o tamanho desse desafio, vamos lá?
Eu sinto saudades de São Paulo! A cidade onde nasci e onde vivi por 40 anos me faz muita falta. Eu sinto saudades do pão na chapa com café com leite na padaria antes do trabalho. Isso não era algo que eu fazia todos os dias, apenas quando a semana estava muito pesada ou quando eu precisava de uma outra perspectiva para resolver algum problema. Eu costumava passar alguns minutos (não muitos, sou paulista e preciso trabalhar rs) observando as pessoas, as vezes ouvindo fragmentos de conversas, admirando como o rapaz do balcão sorria para cada um dos clientes olhando nos olhos deles.

Sinto falta do pôr do sol alaranjado por entre os fios dos postes de iluminação ou no retrovisor do carro, quando o trânsito parava na marginal. Quando fecho os olhos consigo ver com detalhes as partes da cidade que eu mais gosto… o pátio embaixo do MASP, a Pinacoteca, o Mercado Municipal…
Os amigos também são uma parte dolorida. No meu caso uma amiga em especial faz meu coração apertar. Aqui na Alemanha eu fiz algumas amizades, claro, isolar-se posso garantir que é muito pior. Mas sabe aquela cumplicidade no olhar que a gente só tem com quem caminha conosco há muito e muitos anos? Então, essa não existe aqui. Talvez com o tempo ela venha, mas vai levar tempo. Por enquanto só o que eu tenho é saudade.
Mas seu posso dizer que algo realmente me dá um nó na garganta é a falta da família. Eu descobri que o clichê “você não sabe o quanto ama uma pessoa até que a perca” é a mais pura verdade. Claro que não perdemos a família, eles sempre estarão lá, mas par quem mora em outro país o “lá” é muito longe mesmo.

Minhas filhas não vieram para a Alemanha ainda e o processo está mais demorado e complicado do que eu havia pensado. Hoje, com o advento da internet, nos falamos e nos vemos todos os dias – fico pensando em quem passou por esse processo há 10 anos atrás como deve ter sido sofrido – mas eu sinto falta do toque, do cheiro… Ao mesmo tempo que é difícil explicar tenho quase certeza de que você entendeu.
Resumindo, não estou tentando te convencer a não seguir com o plano de viver na Alemanha, muito pelo contrário, eu acho que esse país oferece muitas oportunidades que o nosso infelizmente não oferece e que os bônus compensam os ônus. Minha missão aqui é não romantizar o processo e mostrar o lado negro da força.
Siga com o plano, se esse é seu sonho. Venha para a Alemanha, trabalhe e viva aqui. Mas esteja ciente dos desafios, dessa forma você virá preparado ou pelo menos avisado sobre as dores de imigrar. Saudade dói gente, dói uma dor física e latejante que não tem cura, mas tem remédio. E é possível viver com ela.